terça-feira, 16 de março de 2010

"Os assassinos estão livres, nós não estamos..."



"Gostaria de não saber desses crimes atrozes, é todo dia agora, e o que vamos fazer? Quero voar pra bem longe, mas hoje não dá... não sei o que pensar e nem o que dizer..." (Os anjos - Renato Russo)

Estamos com medo de olhar a rua, de caminhar sozinhos, de seguir em paz nossa rotina, de passear à brisa norturna, de sentir que somos livres... Mas oras, não somos mesmo livres! Que digam que vivemos e morremos pelo liberalismo, mas não, não é assim! Liberdade é algo que morreremos tentando conceituar, mas arrisco dizer que não é assim que deve ser! Não deveríamos ter medo, não deveríamos precisar de alarmes em nossas casas, de andar em bandos com medo do assassino, do ladrão, do estuprador, do sequestrador, de passear à pé... Já vivemos em uma cidade que, por sua disposição urbanística, já nos isola, nos afasta e ainda precisamos andar, sempre que possível, de carro pra ficarmos mais longe dos malvados! Virou moda colocar cerca elétrica em casa (copiando campos de concentração ou penitenciárias), alarme, câmeras... nossas casas parecem fortes de guerra!
"Filha, antes de entrar na garagem, dê a volta no quarteirão e observe bem os bêcos", me diz sempre minha mãe... Me lembro nos tempos de escola quando a diretora passava de sala em sala alertando a nós, meninas, para andarmos sempre em grupo para que, no caminho para casa, ninguém nos matasse, ou sequestrasse, ou roubasse, ou estuprasse, ou torturasse, ou esfaqueasse, ou nos drogasse, ou... as milhões de maldades que se nos acometem!
Não sei, parece que as penitenciárias são inspiradas nas casas dos cidadãos comuns, ou seja, um lugar para privar de liberdade a fim de afastar a maldade... Nos acusaremos de burgueses hipócritas que, por não conhecermos a dura realidade que alguns vivem, queremos banir o lixo social de nosso convívio, mas não é isso! Juro que não é! Seja pobre, rico, negro, branco, amarelo, analfabeto ou letrado...a maldade plantou a sua semente de podridão por todos cantos, seja de forma aberta ou velada! Não temos medo apenas do traficante ou daquele cara estranho que está parado ali na esquina, suspeito, fumando e de jaqueta com capuz, temos medo até dos nossos pais, dos padres, dos professores, dos companheiros que escolhemos para compartilhar a vida, dos engravatados, dos seguranças e policiais, e, lógico, daqueles seres estranhos que andam sozinhos aí pelos bêcos... Temos uma culpa social? Sim! Óbvio! Mas, por favor, alguém nos ajude sobre o que fazer...

O amor já é visto com ceticismo, e quem o prega é um disseminador de um monte de bosta que só faz sentido a aqueles homenzinhos de olhos puxados que vivem meditando, ou, quem sabe, para os casais de 2 meses de relacionamento...É tão difícil... não somos mais seres fraternos, somos desconfiados e eternos competidores! Uma pessoa, certa vez, me disse "eu só acredito desconfiando"... Que espécie de relações construiremos assim??????

O que houve com nossa bondade? É difícil falar de bondade, de amor, quando eu mesma vejo de perto, todos os dias, pessoas se engalfinhando pelo suprimento das necessidades mais básicas... obviamente o capitalismo é uma doença quase incurável que tem como principal sintoma a exclusão, assim como é meio utópico que o venceremos com o comunismo (quem sabe um dia...), então como vamos fazer? Vamos todos nos matar pela desconfiança?
Como falar de fraternidade se não for pelo amor? Não apenas o amor romântico, mas o amor fraternal, de compreensão, de respeito, de aceitação, de ajuda, de solidariedade diante do desejo e da necessidade do outro...

Eu quero caminhar à pé, quero dar boa noite aos vizinhos, quero poder dar carona a alguém que dá com a mão em uma estrada, quero receber amigos em minha casa... quero ter uma casa sem grades ou câmeras de vigilância...
Sei que estou falando de um problema de causas multifatoriais, mas quem sabe amando mais e respeitando mais poderíamos viver melhor... Não quero apenas viver em sociedade, quero viver em comunidade!




"Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar
Do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites no corpo
E nada mais..."
(Casa no Campo - Zé Rodrix e Tavito)

"É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece..."
(Monte Castelo - Renato Russo)